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Artista bom é artista morto

  • Foto do escritor: Rubens Cavalcanti Silva
    Rubens Cavalcanti Silva
  • 16 de jul. de 2018
  • 7 min de leitura

Será mesmo que o artista só fica famoso depois que morre?


Sempre que me deparo com alguma pessoa que me pergunta o que eu faço e eu digo que sou artista, há a mesma frase tão desgastada em nosso meio: pois é, artista só fica rico e famoso depois que morre, né? E quando pergunto por que ela acha isso, a resposta também é muito desgastada e previsível: você não se lembra do Van Gogh?

Como podemos perceber, por causa de um pintor, que como sabemos, vivia na pindaíba e vendeu apenas um quadro durante toda a sua vida, todo mundo chega à conclusão que todos os artistas também estão na pendura e que morrerão assim e sem ficarem famosos. Claro que isso não é verdade. Houve muitos artistas que ficaram ricos e famosos e eu vou falar disso mais adiante. Agora vou me ater a tentar compreender por que somos assim.

Complexo de cachorro vira-lata

A frase acima faz referencia ao nosso pessimismo em relação a tudo em nosso país. Ela foi criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a qual originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. O fenômeno também é referido como vira-latismo ou viralatismo.

Nelson Rodrigues continua: Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. O trecho acima eu copiei/colei da Wikipedia . No entanto se você quiser pesquisar mais, o site EBC.com.br faz um levantamento histórico do porquê disto.

Se você falar mal de sua faculdade, isso vai se voltar conta você. E isso não tem nada a ver com carma

Lembro quando minha filha terminou a faculdade e também de alguns amigos seus da época, que ao falar dessa instituição usava termos depreciativos e até violento para definir essa. Vou dizer pra você o mesmo que disse a ela naquele dia. Se todos falarem mal dos estudos que tiveram, dos professores e da própria instituição tão negativamente desse jeito, vai chegar um dia em que esta mesma instituição ficará famosa por isso. Então, pela lógica, se você falar que seu curso é uma merda; seu certificado ou diploma também será uma merda. E quem é que vai dar emprego ou oportunidade para uma pessoa que teve um curso sem valor algum?

Talvez, em sua cabeça, você esteja discordando de mim e perguntando: quer dizer então que tenho que ser hipócrita e não apontar os erros ou deficiência de minha escola ou faculdade? E por mais que pareça contraditório, vou defender sua ideia. No entanto... fazer criticas construtivas que girem no meio acadêmico é bem diferente em fazer criticas que denigrem a escola em que você estudou. Você está cuspindo no prato que come (desculpe gente o clichê). Isso não tem nada a ver com carma (risos), mas tudo isso voltará pra você, claro.

Eu também fiz faculdade e ainda continuo estudando. Sei, ou imagino que saiba, sobre a maioria dos problemas na relação aluno-professor-instituição. Sempre me deparei com pessoas nervosas que querem colocar suas ideias a ferro e fogo. E quando não conseguem, saem falando mal aos quatro ventos. Sinto muito, mas quem faz a faculdade é você. É você também que se faz, primeiro como aluno e depois como profissional. O seu curso pode ser ruim, mas se você for bom no que faz ele será bom. O curso é ruim? Pesquise você mesmo o que te interessa. Faça o seu diploma valer muito com notas boas e dedicação.

Quer dizer que eu tô pagando e ainda tenho que me virar por conta própria? Sim, é a resposta. Ou você acha que ao se formar em medicina, você será médico? Ao se formar engenheiro, você será engenheiro? Ao se formar artista, você será artista? Meu amigo, minha amiga, pra você ser alguma coisa você precisa da experiência e alguns anos na faculdade não vão te dar isso. A faculdade vai te dar um verniz e é só isso. E com apenas uma demão e olhe lá.

Amar e mudar as coisas me interessa mais

O título acima é um verso de Alucinação, música de Bechior. Pura poesia. Chico Buarque? Pura poesia. Ivan Lins? Pura poesia. Vanessa da Mata? Pura poesia. Zélia Dancan? Pura poesia. Ana Cañas? Pura poesia. Ana Carolina? Pura poesia. Cansei.

A lista poderia se estender ao infinito quando falamos de nossa música que, desculpe-me a repetição, é pura poesia. E nós brasileiros ainda ficamos babando com o que vem de fora, principalmente dos EUA. A maioria dos brasileiros pouco sabe dessa língua, mas acham que tudo é lindo. É claro que lá e em outros países existe música de qualidade, ninguém pode negar isso. Não se pode negar a poesia de Bob Dylan (ganhador do prêmio Nobel de literatura no ano passado). Aliás, muito criticado em nosso país por ele ser cantor e compositor e não poeta. Quem não conhece suas obras, claro que não pode ver onde está sua poesia. E poesia é o que não falta em suas canções. Então, por que não deveria ele ganhar tal prêmio? Não se pode negar a música negra como jazz ou os grupos de rock que fizeram e fazem sucessos ainda hoje. Mas... eu ainda prefiro a nossa música.

E nossos escritores, então? E nossos poetas? E nossos atores? Muita gente aqui fica babando por Anthony Hopkins, que, aliás, é muito bom, e falam mal do nosso Tarcísio Meira, que nem preciso descrevê-lo aqui. Por falar em falar mal, me parece que isso é uma prática também comum entre a gente. Principalmente se a pessoa é famosa. Mas eu vou para por aqui antes que eu comece a falar mal também de quem fala mal. Nós fazemos as mais belas e criativas artes em nosso país. Pronto, falei!

Vou puxar a sardinha, e as 25.000 espécies de peixes de água doce para o meu lado

Como eu comecei este texto falando sobre pintura, deixei propositalmente o final para tenta explicar esse fenômeno de alguns acharem que artista morre pobre e no anonimato. Dá licença gente, mas vou puxar a sardinha, a sardinha em lata o salmão, o lambari, o pintado, e as 25.000 espécies de peixes de água doce para o meu lado. Nós fazemos as mais belas e criativas artes em nosso país. E, caindo no perigo de ser ufanista, as melhores.

O artista brasileiro é inventivo, é criativo e se vira muito bem com o que tem. Se não tiver tela; ele faz. Se não puder fazer, ele pinta em outra coisa. Se não tiver outra coisa, ele fabrica outra coisa. Eu, quando era jovem e ainda morava com minha mãe, diante de uma encomenda em que eu não tinha dinheiro pra comprar tela roubei um de seus guardanapos de pano, estiquei em um chassi que eu mesmo fiz e pintei em cima. Minha mãe, creio, está até hoje procurando seu pano (risos). Noutra ocasião, peguei um guarda roupa que meu vizinho jogou na rua e reaproveitei toda a madeira disponível. Cheguei a fazer uma série com esse material e expus tempo depois.

Nós temos muitos artistas que vivem, ou viveram muito bem, de arte no Brasil. E se isso te satisfaz, no exterior também. Nuno Ramos, Tunga, Lígia Clark, Di Cavalcanti, Fayga Ostrower. e por aí vai.

Isto não é um perfume

Vamos às cifras?


Segundo o livro Isso é arte?, de Will Gompertz, que eu já citei em outro artigo Você é artista ou irmã de caridade?, Man Ray tirou uma foto do Belle Haleine, antiobra de Duchamp, para um rótulo de um vidro de perfume. Que foi capa da primeira e única edição da revista Nova York Dada. Tempos depois Yves Saint Laurent, o estilista e fabricante de perfume, adquiriu a obra. Em 2008, quando ele morreu parte de sua coleção foi vendida, inclusive esta obra citada acima. Ela foi avaliada por quase 2 milhões de dólares.

Quer mais?

Quando ela foi vendia em leilão, alcançou... Quer saber mesmo? Tá. Sei que você está curioso(a), então lá vai... Esta obra foi vendida pela a bagatela de 11.489.968 dólares. Isso fez, provavelmente, Duchamp gargalhar no túmulo, pois nesse frasco, que Man Ray produziu o rótulo, não havia nada em seu interior.

O artista mais rico do mundo

Segundo Will Gompertz, no século XXI os artistas não passarão mais fome. Hoje eles vivem viajando com seus jatinhos promovendo suas obras de arte e principalmente a si mesmos. O que não quer dizer que todos os artistas estão nessas condições maravilhosa.

Damien Hirst queimou várias etapas quando em 2008 entregou mais de 200 obras diretamente para a Sotheby’s em Londres. Como é comum no mundo da arte, há uma relação entre artista-marchand-galeria. Ele excluiu Jay Jopling e Larry Gagosian, seus marchands nessa transação e faturou alto tornando-se o artista mais rico do mundo. Quase tudo foi vendido e, segundo a Sotheby’s por mais de 100 milhões de libras (a conversão desta quantia para o nosso dinheiro, vou deixar por sua conta. Eu não quero nem saber).

Aqui vai um trecho do livro que fala sobre a produção e venda de arte:... os últimos 25 anos foram extraordinários. Nunca antes tanta arte foi feita e comprada. Nunca antes o público e a mídia tiveram tanto interesse pelo o assunto. E nunca antes houve tantos lugares aonde ir para ver as coisas. Novos museus e galerias fabulosos foram construídos no mundo todo. O Guggenheim, em Bilbao, a Tate Modern, em Londres e o Maxxi, em Roma foram todos criados nos últimos 15 anos. Estamos vivendo em meio a um Boom global de arte moderna, como nunca se viu antes.

Você não é nenhuma Gisele Bündchen

Então você me diz: a nossa realidade é outra e eu não vejo isso acontecendo com o carinha, meu vizinho, que pinta pra caralho e trabalha numa oficina mecânica para sobreviver.

É verdade. Concordo com você. No entanto, aquele senhor que mora no andar de cima de seu prédio e que é cirurgião plástico, também não é famoso como o Pitanguy. Aquela mina magrela que sofre de anorexia e que mora em frente a sua casa e que é modelo, não é famosa como a Gisele Bündchen. E aquele fotógrafo que tirou as fotos do casamento da sua irmã? Ele virou um J.R. Duran? Não, claro que não. Então...

Eu me recuso a morrer de fome

O que eu quero dizer é que não importa se você ainda não ficou rico ou famoso. Há muitos profissionais que não estão na mídia, mas que são excelentes e criativos em suas áreas, das mais sofisticadas às mais simples. Se todos se tornassem estrelas, não haveria graça alguma, e nem espaço para tanto. O importante e que continuemos com o nosso trabalho. Sei que você já leu muito clichê hoje de minha parte, e peço novamente desculpas, mas, vai mais um (o último, prometo): o dinheiro é apenas consequência e se a gente for sincero com tudo e amar o que faz, claro que tudo dará certo. Claro que a gente sobrevive. Claro que a gente se tornará mais feliz. E com isso nossa família será também mais feliz. Nosso país será mais feliz. Nosso mundo.

Vejam os nossos professores, por exemplo. Apesar de serem maltratados com baixos salários, com crianças mal-educadas, com pais, mal-educados e chefes e superiores muitas vezes intransigentes e arrogantes, ainda continuam lutando por um país melhor. Não sei como eles conseguem, mas conseguem.

Uma coisa é certa, eu não vou morrer de fome, não.


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